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Entrevista a Marcelo Santiago – Diretor Artístico da Academia MoveDance

Dia 26 e 27 de Maio pelas 21:30, todos os caminhos vão dar ao Pavilhão Multiusos de Soure para o espetáculo  “Perdidas na Selva”, uma história original da autoria da Academia MoveDance. Quisemos conhecer mais, então estivemos à conversa com o Diretor Artístico Marcelo Santiago.

RPS: Olá Marcelo, em primeiro lugar, queremos dar-te as boas-vindas e agradecer a tua presença na Rádio Popular de Soure e também agradecer o teu investimento que quiseste partilhar aqui com a Rádio ao promover a tua academia connosco, por isso, antes de mais, muito obrigado!

Marcelo Santiago (MoveDance): Eu também agradeço o convite!

RPS: Antes de falar da Academia, queremos falar sobre ti, para percebermos também um bocado mais o contexto e percebermos, por exemplo, quando é que a dança entrou na tua vida?

 

Marcelo Santiago (MoveDance): A dança começou muito, muito cedo. Primeiro, eu sempre quis andar numa academia de Soure, mas na altura em que eu quis começar, nunca deu porque Soure não tinha nada disponível para poder ter aulas, então comecei no rancho que era o que havia cá. Comecei com 4 anos no Rancho do Sobral e aos poucos fui tendo aquela sensação de não ser ainda bem aquilo que eu queria, e então só tive a possibilidade, depois, muito mais tarde, fazer aulas mesmo intensivas, quando eu fui para o secundário para Artes, porque Soure também não tinha área de Artes, só tinha a área das Ciências e Humanidades, então tive de ir para Pombal. Nessa altura falei com os meus pais e disse: “Ok, esta é a altura certa, tenho que ir mesmo para uma academia ter aulas de dança”, se bem que eu antes também tinha tido aquelas aulinhas de hip-hop e assim de vez em quando, mas nada muito intensivo, nada muito sério, nada com muita técnica. Sinto que em Pombal foi o meu momento, o meu auge, para saber aquilo que eu sei hoje.  Workshops, Competições ajudaram-me a aprender muito mais sobre dança.

RPS: Foi mais ou menos com que idade é que foste para Pombal?

Marcelo Santiago (MoveDance): Foi no secundário, portanto décimo ano, 15 anos.

RPS: Falaste no Rancho, há algum tipo de dança que não tenhas experimentado?

Marcelo Santiago (MoveDance): Sapateado, tenho muita curiosidade, mas ao mesmo tempo tenho muito receio porque tenho noção que é preciso uma grande coordenação a nível de pés, mas tenho curiosidade de um dia ainda experimentar.

RPS:  E tens algum estilo de dança preferido?

Marcelo Santiago (MoveDance): Claro, contemporâneo sem dúvida! Muita gente associa a Academia MoveDance neste momento a hip-hop e acham que o hip-hop é o meu forte e não, o meu forte é contemporâneo até porque eu comecei a dar aulas em escolas, mais em contemporâneo do que propriamente a vertente hip-hop.

RPS: No secundário foste para Artes, como é que foi conciliar a dança e os estudos ao mesmo tempo?

Marcelo Santiago (MoveDance): Para mim sempre foi muito fácil, tanto no secundário como na faculdade, eu sempre abdiquei de muitas horas de sono, há pessoas que têm de dormir mesmo aquelas 12 horas, eu não me importo de dormir 4 horas. Mesmo nos dias de hoje, enquanto for novo e eu aguentar está tudo bem, mas sim, é abdicar de horas de sono para conseguir fazer tudo. Eu lembro-me de no secundário as minhas aulas terminavam por volta das 17:00, às 18:00 já ia para a academia ensaiar mesmo não tendo aulas, porque dava para ir a pé, e depois ficava lá para a noite e a minha mãe ia me buscar às dez da noite sempre e no outro dia tinha aulas em Pombal às 8:30 portanto lá está, é abdicar de muitas horas de sono para conseguir fazer aquilo que nós queremos, queria recuperar todo o tempo que eu tinha perdido antes, para depois ter uma formação intensiva.

RPS: Já sentes que começaste tarde?

Marcelo Santiago (MoveDance):  Comecei tarde sim, tenho pena de não ter começado mais cedo, mais a nível de flexibilidade, sinto que perdi muito ali a nível de dança na parte da flexibilidade porque quando nós começamos cedo, depois é muito mais fácil, mais tarde, estarmos aptos para dança, quando começamos tarde, a flexibilidade é um trabalho muito duro porque o nosso corpo já está formatado e então é muito mais difícil depois adaptarmo-nos.

RPS: Falaste da faculdade, queríamos saber se o teu percurso de faculdade tem alguma coisa a ver com a dança ou se a escolha foi de alguma forma relacionada com a dança

 

Marcelo Santiago (MoveDance): A faculdade foi o meu momento de choro, porque eu candidatei-me à Escola Superior de Dança e na altura quis muito ser professor de dança, queria mesmo muito entrar na escola, fiz as audições, na altura passei com 14 valores, que lá já é muito bom, é muito difícil ter boas notas lá, é muito exigente, mas a faculdade exige exames médicos e o que aconteceu comigo, foi que tive um problema no joelho, andava a ganhar líquidos no joelho, e na altura a médica de família não me deixou ir, disse que não estava apto e então como não passava o papel eu também não poderia entrar e fui um bocadinho abaixo. Tive um ano sem saber o que fazer, é um problema de saúde, tentei dar volta, ir a todo o tipo de médicos para ver se passavam o papel mas não foi possível, e então na altura tive que pensar noutra alternativa, eu disse para a minha mãe: “Não sei o que é que eu hei de fazer” e ela disse: “Vai para a segunda opção, mais tarde nunca se sabe se não voltas a tirar esse curso, se o teu joelho já não recuperou” e lá está, pode ter sido de ter tido aqueles anos muito intensivos, ter sobrecarregado muito os joelhos, mas pronto, acabei por optar pelo Design de Comunicação em Coimbra, mas mesmo assim achava que não era suficiente, e daí ter depois aberto o grupo MoveDance, porque tive de sair de Pombal, em Coimbra já não tinha a possibilidade de fazer aulas e teve de sair por aí. Mais tarde, optei por tirar mestrado em Design e Publicidade, e neste momento, lá está, como a dança tem que estar sempre presente, a minha tese é sobre Design, Publicidade e Dança tudo misturado.

RPS: Não tínhamos bem essa noção, de qual era qual era o teu percurso académico depois do secundário, já ficámos a conhecer mais um bocadinho da tua história

Marcelo Santiago (MoveDance):  Muita gente vê as minhas redes sociais e pensa que pago a alguém incrível para fazer, mas não, eu por acaso tenho esse lado bom que é ter uma Academia de Dança, perceber de Dança e ainda perceber de Publicidade e fazer tudo junto.

RPS: Já deu para conciliar então, está tudo minimamente relacionado. Agora falando mais sobre a MoveDance, já falaste um pouco como é que ela surgiu, mas queremos que desenvolvas só um bocadinho mais. Como é que surgiu mesmo a ideia da MoveDance e porquê criar uma Academia?

Marcelo Santiago (MoveDance):  No início, tinha o objetivo de abrir uma Academia, mas sabia que não era possível, primeiro porque não tinha meios para abrir, não tinha um espaço pelo menos em Soure, a um preço acessível, as coisas não estão muito acessíveis, então na altura optei por abrir em casa dos meus avós, eles tiveram um café, então na parte de cima pensámos, se calhar este restaurante, metendo um chão e umas coisas, se calhar isto até dá, e pronto, teve que começar por aí, comecei com muito poucas alunas, na altura até foi mais pessoas assim da terrinha, uma delas a minha irmã, e começámos assim, muito humildes, a começar um  projeto que nem tínhamos bem noção do que é que estávamos a fazer. Eu comecei aquilo como um grupo mas já sabia que, futuramente, poderia vir a ser uma academia, e foi aos poucos, foi uma construção. Tivemos ali dois, três anos em que ninguém conhecia a MoveDance, ninguém sabia de nada, porque mesmo que eu pusesse fotos e etc, as pessoas como nunca nos tinham visto a dançar e também como eram meninas muito pequeninas, ainda não sabiam a potencialidade que nós poderíamos vir a ter. Foi crescendo, fomos abrindo turmas aos poucos. O MoveDance começou por ter só a turma MoveDance, que era só até aos 18 anos, mas andava mais ali entre as idades 9, 10 anos, não fugia muito daí. Eu acho que depois o que ajuda a crescer são os espetáculos. A nossa primeira oportunidade foi aqui em Soure, foi no pavilhão multiusos numa Feira de Páscoa. Não vou esquecer mais, foi uma senhora chamada Lurdes que nos convidou, fiquei mega contente, e depois a partir daí, desde esse espetáculo, começaram a surgir convites, começou a crescer, e sinto que este ano agora foi o que cresceu mais sem dúvida.

RPS: Era uma das perguntas que nós tínhamos para te fazer, qual é a tua perspetiva de como é que está a correr o projeto, como é que está tudo a acontecer, e quais é que foram as principais dificuldades que encontraste?

Marcelo Santiago (MoveDance):  Dificuldades encontrei algumas,  eu tenho um grande objetivo no MoveDance, que é ter rapazes, gostava mesmo muito de ter rapazes cá em Soure, e a minha maior dificuldade, já falei com pais, já vi crianças rapazes a dançar, e eu sinto que ainda existe um bocadinho o preconceito de rapazes terem dança, ou seja, há rapazes que gostam de dança aqui em Soure, mas se calhar o futebol para os pais é mais bem visto, ou a guitarra, ou a piscina, e a dança é a última opção, mas pronto, são pontos de vista e eu sinto que o meu papel também cá, não é só dar aulas de dança, eu sinto que nós também temos que cultivar aqui um bocadinho novas mentalidades e fazer crescer Soure. Às vezes não é só crescer a nível de obras, também é crescer a mentalidade e eu estou a tentar também que as pessoas mudem a mentalidade a nível de espetáculos e cultura. Este ano no nosso espetáculo também vou fazer umas mudanças para as pessoas começarem a perceber que o espetáculo é uma coisa séria, e não um momento em que nós estamos ali para só para nos divertir, aquilo exige muito trabalho antes, é um trabalho de um ano e esse trabalho deve ser respeitado, deve ser visto com bons olhos. O projeto está a correr bem, para além de conquistar os alunos, também se deve conquistar os pais e fazer entender muitas coisas. Eu para além de um professor, também quero ser um amigo e então eu noto que muitas vezes eu já recebi muitas crianças com falta de confiança em si próprias, isso nota-se na dança, principalmente a nível de pescoço, quando uma criança está a dançar com a cabeça muito para baixo significa que ela está um bocadinho com falta de confiança, e eu quando noto isso e noto que as alunas são muito boas, eu sou o próprio a falar com a mãe e com a filha e dizer, se calhar isto é um trabalho que temos de desenvolver e tenho tido muito sucesso com algumas que vieram muito tímidas, tinham muito medo do palco, ficavam em pânico, tinham muitas brancas e neste momento são muito boas.

RPS: Falaste aqui um bocado sobre os planos para o futuro, mas tens mais algum plano para a Academia? Quer seja pelo espaço físico, quer seja por tudo mais?

Marcelo Santiago (MoveDance): Sim, como eu digo, o que tenho nunca é suficiente, eu quero sempre crescer mais e gostava de ter uma academia muito maior do que aquela que tenho obviamente, mas lá está, é um processo. Não gosto de subir muitos degraus e depois de repente cair, tem de ser passo a passo, lá está, vendo como o MoveDance já foi desde 2017 até 2023, não foi assim tanto tempo para crescer aquilo que cresceu e neste momento tenho de estar contente com aquilo que tenho e estou muito contente com o processo, mas obviamente que quero fazer crescer a Academia MoveDance. O meu sonho é ter cá em Soure um armazém grande onde eu possa ter várias salas, vários estúdios, onde possa dar várias aulas, ou seja, não estar só eu a dar aulas, mas também estarem professores noutras salas a dar aulas, mas isso não depende só de mim, também depende das pessoas e também depende do avanço que vai ter. Claro que não vejo isso num curto prazo, porque ainda há pouco tempo investi nesta Academia e também não quero deitar esse dinheiro agora abaixo, mas já estou muito contente com as condições que temos nesta Academia nova.

RPS: Uma das perguntas que tínhamos para fazer era precisamente sobre esta nova casa da Academia, é o segundo espaço da MoveDance e queríamos-te perguntar se a localização foi pensada ou simplesmente surgiu a oportunidade para vires aqui para o nosso lado?

Marcelo Santiago (MoveDance):  Em 2017 não pensei logo em vir para Soure, porque lá está, sabia perfeitamente que não havia condições para estar cá, tanto a nível de aluguer de espaço como para as alunas que eu tinha, não compensava estar a abrir, mas tinha um objetivo que era abrir mesmo no centro do concelho, porque quando era pequeno não tive essa oportunidade e queria dar oportunidade a muitas crianças de cá, de terem essa Academia de Dança. Já havia algo, já havia academias à volta do concelho, mas no centro não havia nenhuma e eu sentia que aqui fazia falta. Há muitas lojas de roupa, há muitas cabeleireiras, há muitos cafés, mas escolas de dança nunca houve. E eu sabia que se calhar também ia ser um marco importante cá em Soure e então o ano passado comecei a falar com todos os buraquinhos que encontrava, a perguntar preços, como é que estava agora passado alguns anos o mercado, se os preços estavam muito altos. Senti que algumas pessoas pediram demasiado, ou seja, algumas pessoas querem ajudar a abrir coisas novas cá, há outras que sinto que estão a travar essa evolução com valores muito exorbitantes para as pessoas aguentarem abrir lojas ou seja o que for e eu acho que esse também é um ponto que se calhar as pessoas deviam pensar, ou seja, se querem que se evolua, também tem que haver um esforço das duas partes. Depois surgiu este espaço, fui ali ver a academia e não estava nada a imaginar o espaço, fui ver com o meu pai e ele disse que se partia ali uma parede, depois abria-se ali, fomos falando, aquilo mudou radicalmente por dentro para termos algumas paredes, tanto que agora as pessoas dizem que aquilo está brutal, nada a ver com aquilo era antes, as pessoas falam “aqui há uns anos era uma pizzaria e agora não se nota nada”. O espaço está muito bom, está amplo, uma coisa que eu senti falta no outro estúdio era a luz natural, nós ali temos imensa luz natural, eu só ligo a luz mesmo quando está de noite, é lindo o pôr do sol a dar aulas, é muito bom. O objetivo também foi mudar as condições do primeiro estúdio para este. É um esforço que nós fazemos, são prioridades, se calhar podia ter comprado uma casa, se calhar podia ter comprado um carro e pronto comprei uma Academia.

RPS: Gostávamos de saber como é que tu vês a envolvência da comunidade Sourense aqui com a Academia e se gostarias de dizer alguma coisa ou de pedir alguma coisa aos Sourenses.

Marcelo Santiago (MoveDance):  Para mim, são colaborativos, mas essa colaboração às vezes é com base na crítica, e nós temos que pensar que para evoluir temos que cair no erro e muitas vezes isso acontece, e deve ser falado com as pessoas certas, não criticar com base apenas na nossa experiência e não vermos o outro ponto de vista, ou seja, pensarmos, será que isto foi pouco ou será que para Soure já é bastante bom? Não podemos estar a comparar Soure com uma cidade, a cidade tem possibilidades que Soure que não tem, tem fundos que Soure não tem, eu por exemplo posso falar por mim, eu sei perfeitamente que o pavilhão multiusos não é o espaço ideal para um espetáculo incrível, a nível mudanças de cenários é difícil, a nível de camarins é difícil, e as pessoas não veem esse outro lado do palco. Este ano são 55 alunos para 2 camarins, cada aluno tem 3 roupas, se formos a ver, é muita roupa dentro dos camarins e se calhar a minha opção era dizer logo não, pavilhão multiusos de Soure não vou fazer aí, é impossível, não dá e a Câmara tem sempre ajudado imenso nessa parte, tem pensado em soluções para os problemas que existem e claro que a solução por parte da Câmara não é logo dar tudo, até porque não tem possibilidade para isso. É um trabalho conjunto que eu tenho feito com a Câmara, que é dar o meu ponto de vista enquanto bailarino e enquanto diretor artístico e depois a Câmara dar o lado deles. Todos os anos eu vejo alguma evolução nesse aspeto e eu notei muito que agora, de volta aos Sourenses, sinto que este ano Soure esteve bastante bem na parte da Cultura, sinto que evoluímos já bastante e custou-me ver alguns comentários a dizerem mal e eu quando fui para assistir alguns desses concertos, que eu não posso sempre porque também estou em Lisboa, posso dizer que estavam lá 10 pessoas. A Câmara pode pensar, porquê fazer isto, porquê continuar a investir numa banda para vir aqui atuar, sendo que também não há colaboração? Sinto que a colaboração em alguns espetáculos é apenas porque os filhos estão a atuar e os pais ou familiares são obrigados a assistir e nós temos que enquanto Sourenses ir assistir a estes espetáculos, que isso já ajuda. Tenho um grande objetivo para a Academia, em juntar a Escolas de Música com Escolas de Dança, em Pombal já fazem isso, e eu gostava muito que em Soure também existisse. Sinto que há espetáculos de música, espetáculos de dança, espetáculos de teatro, mas é tudo separado e por que não juntar? Porque não fazer um grande show com um grande investimento? Sou apologista que quanto mais juntos estivermos, mais força vamos ter, se calhar mais convites vamos ter para fora, mas pronto, lá está, é uma construção para ser feita aos poucos, eu também não quero ser invasivo e achar que as minhas ideias são as melhores atenção, é apenas uma perspetiva que eu tenho e que sinto que pode ajudar. Uma coisa que eu por exemplo adorava e que já ando a tentar assim fazer assim uns comentários, era termos um teatro-cine cá em Soure. Faz muita falta a todos os níveis, um pavilhão multiusos é bom para algumas coisas, mas se calhar para outras não é, e um teatro-cine cá era muito bom.

RPS: Falaste no guarda-roupa, como é que o geres, sendo que são 55 pessoas, tens alguém que trabalha para ti?

Marcelo Santiago (MoveDance): O guarda-roupa é uma coisa muito interessante porque eu vou comprando durante o ano todo, não mando vir logo a roupa toda de uma vez senão também me confundo. É uma parte muito importante do espetáculo e tenho noção disso, tenho muita ajuda da minha mãe e dos meus avós nessa parte. Já conheço mais ou menos as minhas alunas, sei mais ou menos os tamanhos, então nós mandamos vir através da Internet, recebemos a roupa, e a minha mãe e os meus avós depois ajustam, colocam mais um pormenor ou outro na roupa, se vier uma peça básica, se calhar metemos ali uns brilhantes ou colocamos umas lantejoulas, para dar mais aquele ar de espetáculo. Aproveito para avisar já que o espetáculo deste ano tem roupas incríveis!

RPS: Sentes que há pessoas de idades diferentes daquelas que já tinhas, que estão a começar a aderir? Ou ainda está a ser difícil conseguires conquistar mais velhos?

Marcelo Santiago (MoveDance): Isso é uma coisa muito interessante, este ano houve uma pessoa que disse: “Oh Marcelo, abre para as pessoas mais velhas, então nós estamos aqui paradas, não temos nada” e então eu decidi abrir. Já tive experiências noutras escolas, que abri e depois não teve sucesso nenhum, aparecia 1, 2, 3 gatos pingados, não dava para fazer nada, e quando eu abri a turma começo a receber mensagens e pessoas a ligar, a dizer que estavam interessadas em fazer a inscrição e num dia a turma encheu. Continuaram a surgir mais pessoas interessadas, então abri a segunda turma que também está praticamente cheia, portanto são 2 turmas que neste momento tenho de pessoas mais velhas e que estão interessadas. Às vezes não é porque as pessoas não querem colaborar, até querem, é a mentalidade, ou seja, se a minha amiga vai, eu também vou e é um bocadinho por aí, fazer perceber às pessoas que faz falta. Na última aula tivemos a falar sobre isso no fim, sobre saúde mental, porque muitas mães, chegam a casa do trabalho muito tarde e têm muita coisa para fazer em casa, então acham que não têm tempo para ir, mas se calhar é abdicar de algumas coisas, ou seja, se calhar se o jantar era às 20:00 pode passar para as 21:00 ou se o jantar era às 20:00, passar a jantar às 19:00, e depois ir para academia e fazer aulas. Eu sinto que as pessoas estão num ritmo tão certo que não conseguem fugir daquilo. Isso prejudica-nos muito mentalmente, não estamos tão aptos para o trabalho depois no dia a seguir,  vamos na mesma cansados, se calhar nem vamos com a nossa melhor energia, prejudicamos a energia dos outros e depois é uma bola de neve e então houve uma mãe que falou comigo e disse “Marcelo, isto faz-me tão bem, eu venho daqui tão contente, isto faz-me mesmo muito bem”, e estivemos a falar mesmo sobre isso, sobre saúde mental, hoje em dia já se fala muito isso nos podcasts, o que já é uma coisa boa que antes não se falava, as pessoas não estavam muito informadas sobre isso, e sinto que o MoveDance também veio ajudar nisso, ou seja, quando se entra na minha Academia parece que estamos numa bolha, porque não pensamos em nada do que está lá fora, dentro da Academia não há rivalidades, não há alunos que se dão mal, foi uma coisa que também é uma construção que eu tive que ter, todos estão com o mesmo objetivo que é dançar e nos divertirmos e aprendermos. Fugir um bocadinho a essa rotina diária que nós temos, até mesmo para mim, eu dou aulas e para mim aquilo é fugir à rotina a nível de design que é um trabalho também muito fechado, muito em frente ao computador, e eu sentia que precisava disso e faz muito bem. Todos precisamos de tempo para nós, para ficarmos contentes connosco próprios do trabalho que estamos a desenvolver.

RPS: A Academia está aberta todos os dias? Disseste que estavas em Lisboa, como é que geres quando é que está aberta, ou tem dias específicos para abrir?

Marcelo Santiago (MoveDance): A Academia neste momento tem dias específicos, que é sexta-feira ao final do dia e ao sábado o dia todo, exceto das 17:30 às 20:00 que estou a dar aulas noutra escola que é na Redinha e tenho de me deslocar até lá, então a Academia não fica aberta, mas o objetivo é depois abrir mais aulas, mas enquanto estou no mestrado não é possível. Tenho a professora Maria Beatriz, precisei de ajuda, o tempo não dá para tudo, para dar aulas temos que prepará-las antes, são muitas coreografias, cada turma tem sempre 3 coreografias para o espetáculo e num ano, pensando bem, não há assim tantas aulas porque eu dou uma aula por semana, ou seja, num mês há 4 aulas, é mais intensivo, temos que estar mesmo focados, não dá muito espaço para grande brincadeira, é preciso trabalhar muita técnica, há muito foco, estamos muito determinados e sobretudo muita coordenação e é sempre o que eu quero trabalhar, técnica coordenação, determinação e garra.

RPS: Já estiveram em algum concurso? Ganharam alguns prémios?

Marcelo Santiago (MoveDance): Sim, ainda há pouco tempo fomos a uma competição que foi em Lisboa, em Casal de Cambra e íamos principalmente contentes com o nosso trabalho, não com o objetivo de ganhar algum lugar, mas com o objetivo de mostrar aquilo que a Academia tem de bom. Abrimos uma turma de competição, isto para mostrar também o processo, nós temos uma turma de competição que já começou há algum tempo e eu sempre senti que não era a altura certa e eu este ano ao abrir a Academia disse, este ano vamos a competição, é este o ano, sinto que vocês estão preparadas, está no tempo de mostrar. Foi um trabalho muito duro, nos últimos ensaios elas já estavam a desesperar, estava tudo a correr mal e eu disse-lhes que quando corre mal nos ensaios significa que na competição vai correr tudo bem. Fomos com a ajuda da Câmara de Soure, de autocarro e íamos muito contentes com aquilo que tínhamos feito e então já saímos de lá a ganhar de qualquer das maneiras. Estar naquele meio com pessoas tão boas em competição, saímos contentes claramente e também porque fomos muito elogiados nos camarins, estavam sempre a dizer que já ganhávamos a parte da roupa, dos adereços e etc… Nós já estávamos contentes porque no meio daquela gente toda já tínhamos algum reconhecimento e depois quando soubemos que tínhamos ficado em primeiro lugar foi uma sensação de dever cumprido, de representação da Academia toda, porque não foram todas as alunas, foram só as alunas que estão na turma de competição, que é feita através de audições, e no meio de 55 alunos, 8 estão elegíveis para a turma de competição e sem dúvida que elas fizeram um ótimo trabalho e estou muito contente. Ver uma coreografia minha em competição é um prazer enorme.

RPS: O objetivo é entrar em mais competições?

Marcelo Santiago (MoveDance): Sim, queremos voltar a mais competições, mas temos de fazer uma seleção, ou seja, não entrar em todo o tipo de competições, mas sim nas competições que sentimos que vão de encontro à nossa mentalidade. Não quero ir a um concurso onde haja uma grande rivalidade entre as escolas, isso não faz parte de mim e acho que isso prejudica a nível de saúde mental as alunas. Não quero cultivar isso, o meu objetivo é pensar sempre que juntos somos mais fortes.

RPS: Relativamente aos bastidores, também precisas de ajuda e vais tendo essa ajuda? Ainda é difícil ou vais gerindo tu tudo?

Marcelo Santiago (MoveDance):  Nos espetáculos, eu tento ter sempre staff, ou seja, pessoas de fora que tentem ajudar, principalmente as mais pequeninas, ali a partir dos 10/11 anos, elas já são desenrascadas, ou então eu tento que elas sejam desenrascadas, para se conseguirem vestir a elas próprias, mas as mais novas já é difícil vendo que ainda são pequeninas, não têm bem noção e têm de decorar muita coisa para além das coreografias, têm de decorar as ordens entrada, têm de decorar se têm que estar prontas naquele momento ou não, então eu tento pôr staff para ajudar nessa parte. As mais velhas eu deixo-as ir, também têm de errar, saber quando é que é para entrar, quando é que é para sair, porque o mundo do espetáculo é mesmo esse.

RPS: Queríamos também perguntar pela tua perspetiva, como Marcelo, se tens alguma perspetiva de poder dançar ainda, fazer competição, se o teu joelho já está bom. Quais são os teus planos para o futuro?

Marcelo Santiago (MoveDance): A nível de joelho, já não incha, está ótimo, andei ali um anito que já estava com medo outra vez, mas como durante a semana fico a recuperar, não estou naquelas aulas intensivas, não sei, quero ir experimentando aos poucos a ver o que é que o meu joelho dá. A nível de competições, sinto que o meu momento já foi, sinto que já fiz as competições que eu tinha a fazer, isto não quer dizer que não me venha a dar uma loucura e ir fazer uma competição algures ou ir a um programa de televisão ou algo do género, mas por enquanto não tenho esse objetivo. Estou muito focado neste momento nas minhas alunas, tanto que no espetáculo do ano passado eu fiz parte dele porque estava no meu momento, em que sentia que tinha estar nos palcos, mas este ano o espetáculo está totalmente entregue às minhas alunas. Se dançar é uma coreografia que estou a tentar que as mães dancem este ano e eu já disse que nessa parte eu dançava com elas, se elas quiserem, mas o foco está principalmente este ano nas minhas alunas e elas mostrarem que conseguem fazer um espetáculo completo sem mim. O espetáculo este ano tem uma hora e meia, é muito tempo, tenho personagens principais que só numa coreografia ou outra é que vão trocar de roupa, o resto estão sempre em palco, portanto já é ótimo. Estive uns anos a pensar muito em mim, mas sentia que não estava a dar o meu máximo às minhas alunas e o meu foco agora é dar uma mensagem de máxima força às minhas alunas e ver até onde é que elas conseguem chegar. Tenho alunas muito boas, o nível do espetáculo este ano está muito mais exigente do que o ano passado, coreografias muito mais difíceis, mas passo a passo ficamos lá.

RPS: Se quiseres aqui esta oportunidade para promover os espetáculos, promover alguma coisa que tu queiras, força

Marcelo Santiago (MoveDance):  Posso adiantar que este ano o espetáculo vai ser com bilheteira, mas gratuita, ou seja, as pessoas podem levantar os bilhetes na Academia e isto porque o que eu senti o ano passado é que o pavilhão estava muito cheio e é ótimo termos o pavilhão cheio, mas temos um lado um que prejudica, há muito barulho, prejudica os técnicos que estão também a fazer o seu trabalho e querem dar o seu melhor e isso tem que mudar, visto que se nós formos a um teatro as pessoas não estão de pé a assistir, não estão a fazer barulho, as pessoas vão com o objetivo de ver os espetáculos, estarem sentadas, apreciar o espetáculo e não conversar, estar a fazer barulho e incomodar as pessoas que estão lá para ver, e foi um lado que eu senti que no ano passado nós errámos também. O ano passado só fizemos um dia, portanto também percebo que as pessoas quisessem ir ver todas, e foi ótimo ver imensos Sourenses naquele dia juntos para ir ver um espetáculo e isso deixou-me muito contente mesmo, deixou-me emocionado, mas este ano queremos ter mais controlo com a bilheteira. As pessoas podem levantar o bilhete, vai ser físico, nada online. Este ano vão existir muitas trocas de cenários, o que me dificulta a vida, também temos crianças muito pequenas dos, 4 aos 6 anos, este ano a estrear-se no espetáculo a decorar 2 coreografias, eu fiquei muito contente porque eu com 4 anos não decorava nada, só queria era brincar, portanto já é ótimo. Estamos mais minuciosos em todos os pormenores, este ano o espetáculo promete mesmo, estou muito entusiasmado. Podem acompanhar em @movedance.academia no Instagram e se pesquisarem MoveDance Academia no Facebook também podem encontrar. Aproveito também para avisar, porque tenho sido contatado algumas vezes para inscrições, nesta altura é muito difícil inscrever alunos, estamos num espetáculo e não dá para dedicar tempo a pessoas novas, mas em setembro, vamos abrir novas inscrições, portanto se as pessoas quiserem, inscrevam-se em setembro.

RPS: Queremos agradecer-te mais uma vez pela presença aqui na Rádio Popular de Soure e foi um gosto ter-te aqui connosco Marcelo.

Marcelo Santiago (MoveDance):  Foi um prazer! Muito obrigado à Rádio Popular de Soure!