O CONCELHO DE SOURE

REFERÊNCIA HISTÓRICA

Confrontado a Norte com o concelho de Montemor-o-Velho, a Sul com o de Pombal e Ansião, a Este com o de Condeixa-a-Nova e Penela e a Oeste com o da Figueira da Foz, o concelho de Soure integra-se numa região natural denominada Baixo-Mondego, tendo uma superfície de 272.23 Km2 e uma população de 20 mil habitantes. Está dividido administrativamente em 10 freguesias – AlfarelosUnião das Freguesias Degracias e Pombalinho, União de Freguesias da Gesteira e BrunhósGranja do UlmeiroFigueiró do CampoSamuel, Soure, Tapéus, Freguesia de Vila Nova de Anços e Vinha da Rainha, mas, naturalmente, em duas zonas características bem diferenciadas.
A zona serrana, que integra a “sub-região” de Sicó, é constituída pelas freguesias de Tapéus, Degracias e Pombalinho. A produção do queijo continua a ser um dos produtos mais característicos da região. De referir também, no plano industrial, a extração de calcário e uma unidade de torrefacção de frutos secos.
O resto do concelho, mais plano, dominado pelas bacias de aluvião dos rios Anços, Arunca e Pranto, com uma maior riqueza de solo e uma maior proximidade dos principais eixos de comunicação da região e do país, naturalmente, tem apresentado um maior índice de desenvolvimento, assente num quadro diversificado de atividades no plano sectorial.
O concelho de Soure é rico em associativismo, designadamente, nos âmbitos culturais (grupos de folclore, bandas, escolas de música e tunas), desportivo e de ação social.

O CONCELHO DE SOURE

Vem de longe a importância deste concelho, quer no contexto regional, quer mesmo nacional.
Os vestígios de ocupação humana que polvilham o território do concelho de Soure são o sinal claro das condições que ele sempre ofereceu aos homens: assim é com o sítio Neolítico do Forno da Cal (Vinha da Rainha), que então se situava no estuário do rio Mondego, e com o povoamento da Idade do Ferro no Castro (Soure) que dominava o fértil vale do Arunca, local onde foram encontrados restos de instrumentos agrícolas.
A estas marcas da presença do Homem juntam-se muitas outras, e mais dispersas na paisagem, durante o período de domínio romano. A ocupação do território, nesta época, foi realizada de forma mais intensa, beneficiando também da proximidade de dois importantes centros urbanos: Conímbriga e Aeminium. Aliás, os documentos epigráficos encontrados em Soure e nas imediações, embora tenham aparecido fora do contexto arqueológico original e, no caso dos primeiros, reaproveitados em estruturas medievais, fazem supor a existência de um estabelecimento romano, talvez um vicus (aldeia) mais ou menos correspondente ao sítio da atual vila. No conjunto do concelho, os vestígios encontrados sugerem dois eixos principais de ocupação: as margens férteis dos rios Anços, Arunca e Pranto e uma possível via entre Soure e Conímbriga.
Já no período que medeia entre o fim da dominação romana e os séculos XI-XII rareiam, ou não existem mesmo, os vestígios. Até há bem pouco tempo atribuíam-se ao período hispano-visigótico- século VII os ajimezes (janelas de duplo arco ultrapassado, divididas por um colunelo parte-luz) reutilizadas no castelo de Soure. Porém os estudos mais recentes apontam a datação destes vestígios para épocas mais tardias.
A partir de meados do século XI começamos a ter documentação que nos permite traçar, agora com mais precisão, algumas das linhas de história deste território. Se é verdade que os testemunhos escritos que aparecem nesta época, e mesmo pelo século XII adentro, se referem a toda a região a sul do Mondego como sendo um deserto (no sentido de não habitado, por desbravar), não podemos descurar o facto, aliás de toda a relevância, de se reportar a 1043 o documento mais antigo que conhecemos sobre Soure: o presbítero João e seus confrades (Sisnando, Ordonho e Soleima) doaram ao convento da Vacariça um cenóbio que possuíam em Saurio. Decerto que se tratava de um pequeno local de recolhimento e oração para estes ermitas. No entanto, e por se tratar (ainda) de um época de domínio muçulmano, a presença de um mosteiro cristão é sinal de povoamento, de convivência social e sobretudo, de tolerância religiosa; a outra referência documental deste cenóbio, a Vida de São Martinho de Soure, escrita por Salvado em meados do século XII, faz-lhe uma alusão muito vaga, o quer significar que o edifício se encontraria em ruínas, certamente “vítima” das constantes lutas entre cristãos e muçulmanos.
O que se pode afirmar com toda a certeza é que, com a reconquista definitiva de Coimbra (em 1064) e a constituição – ou reforço da linha de castelos que defendia a cidade (Santa Olaia, Montemor-o-Velho, Soure, Germanelo, Penela, Miranda do Corvo e Lousã, estão criadas as condições para se proceder ao desbravamento de toda a região a sul do Mondego.
É a iminente e constante ameaça muçulmana, sentida fundamentalmente até à conquista de Santarém e Lisboa (em 1147), que acentua a situação estratégica de Soure, e de toda esta região, nesta época: terra de fronteira, palco de lutas e investidas constantes, para onde se tornava urgente atrair povoadores e homens de armas.
Este posicionamento estratégico ficava a dever-se à estrada militar que por ela passava; à ligação entre os castelos e rotas que atravessavam os territórios de Coimbra e Montemor-o-Velho, bem como aos rios Arunca e Anços e cuja confluência assiste.
O carácter profundamente militar do território nesta época de reconquista é na verdade condicionante do crescimento da pequena comunidade que se instalara em Soure, antes de 1043, junto ao mosteiro referido e que, agora, tem no castelo o centro da sua vida e o vector determinante da sua própria inscrição no espaço; é este traço definidor que leva as populações em direção ao sul, em paralelo com o avanço da fronteira do condado, fazendo surgir, no instável mapa político do século XII, povoações como Redinha e Pombal. Será ainda este fator (militar) a explicar a ampla doação feita por D. Teresa à Ordem dos Templários, a 19 de Março de 1128, concedendo-lhes ( …) o Castelo de Soure bem como todas as terras entre Leiria e Coimbra, sob domínio muçulmano e despovoadas (…).
Era a concessão de uma fortaleza em zona militar importante, bem como dos territórios sitos atrás da linha de fronteira e que se organizarão a partir do castelo estratégico e decerto do convento que possuiriam nele ou ali perto. E esta doação, como a que o seu filho Afonso Henriques dará em Março de 1129 do castelo e vila de Soure, converter-se-á numa importante cabeça da primeira comenda dos Templários em Portugal.
A partir de Soure, a Ordem do Templo forma e organiza um vasto domínio que vai desta localidade a Almourol, passando por Pombal, Tomar, Ceras e Zêzere, território militarmente vital para a defesa de Coimbra; de tal modo que o cerco muçulmano a esta cidade, em 1190-1191, vem sublinhar a sua importância estratégica, que não se havia esgotado com a conquista de Santarém e Lisboa.
Outro importante elemento estruturador da vida desta pequena comunidade é, sem dúvida, o Foral que, em Junho de 1111, o conde D. Henrique e rainha D. Teresa dão à vila de Soure.
Este diploma, para além de conceder variadíssimos privilégios sociais e fiscais aos grupos de cavaleiros (milites) e peões (pedites), peças fundamentais nesta região de fronteira, estimulam o aproveitamento agrícola das terras pelos moradores. É neste contexto de incentivo à fixação das populações que surgem, no século XII, as quintas de S. Pedro da Várzea e S. Tomé, das quais ainda hoje restam as capelas românticas, a daquela erigida na primeira metade do século e a segunda em finais dessa mesma centúria.
Para a zona Norte e Oeste do atual concelho de Soure (de Alfarelos à Vinha da Rainha, passando por Brunhós, Samuel,…) pertencia então ao termo de Montemor-o-Velho.
Daqui, as primeiras referências que nos chegam não são anteriores à segunda metade do século XII. Nesta parte do território, os grandes responsáveis pela política de repovoamento são os mosteiros de Santa Cruz de Coimbra e de Santa Maria de Seiça.
A época a que acabamos de fazer referência foi, de facto, estruturante da vida que este concelho construiu. Se, por um lado, ainda no decorrer do século XII o carácter militar desapareceu, com o deslocamento da fronteira cada vez mais para sul, por outro, o movimento repovoador acentuou-se: arrotearam-se terras, arrancando aos pântanos algumas das mais férteis; os senhorios, laicos ou eclesiásticos, incentivam este processo através de facilidades fiscais.
A todo este movimento não terá ficado indiferente à Ordem do Templo e posteriormente à Ordem de Cristo que, na região herdou muitas das boas propriedades que os Templários possuíam. Não será, aliás, errado afirmar que estas ordens terão sido responsáveis pela introdução de algumas inovações, ou pela realização de algumas obras, indispensáveis a um melhor aproveitamento das capacidades agrícolas dos terrenos (a levada, anterior ao século XV, e o seu extenso de moinhos urbanos e rurais- em Soure, nos Novos e em Paleão-por exemplo).
Por toda a época moderna, vão surgindo as inúmeras quintas que bordejam os vales do Anços e do Arunca, sublinhando ainda mais a apetência agrícola destes terrenos e aproveitando, nomeadamente, uma enorme riqueza: a água.
Explorando, também, a enorme potencialidade energética da água surge, já nos finais do século passado, a Fábrica de Fiação e Tecelagem de Paleão, sendo a primeira fiação do Baixo Mondego, abrindo finalmente outra dimensão económica deste concelho.

GEOGRAFIA

O concelho de Soure faz parte da bacia hidrográfica do Baixo Mondego, existindo dois espaços essenciais: o campo e a serra.

A área do campo, é estruturada por dois rios: o Anços e o Arunca, correndo paralelos à linha de costa, em direção ao Mondego a norte. Nas proximidades da aldeia de Paleão, o Anços flecte 90º em direção ao mar, juntando-se rapidamente ao Arunca, vindo desaguar no Mondego, nas proximidades de Alfarelos. A vila situa-se numa pequena elevação na confluência do Arunca e do Anços. A paisagem circundante é de relevos suaves raramente atingindo as cotas de 100 m, destacando-se a noroeste o maciço de Verride (que engloba parte das freguesias de Samuel, Gesteira e Brunhós).
Para o Arunca e Anços confluem uma série de ribeiras que abrem vales largos constituindo planícies de aluvião, de grande fertilidade, que desde sempre atraíram população.
A área é formada pelo maciço calcário da serra de Sicó (de altitudes modestas, que atingem no seu máximo cerca de 480 metros), que se prolonga no sentido norte-sul, desde Condeixa-a-Nova até às proximidades de Montejunto, englobando, no que diz respeito ao concelho de Soure, as freguesias de Degracias, Pombalinho e Tapéus.